23 novembro 2012


   
    Ver estas fotos, recordar as nossas felicidades, reviver os sorrisos. Tudo isto ainda me custa. Passou tanto tempo, mas ao mesmo tempo tão pouco. Pensei que me tinha reconstruido, que tinha construído a maior muralha existente em volta do meu coração, mas uma simples foto fê-la desmoronar-se em mil e um pedaços. É que… eu sinto tantas saudades dele! E saber que nunca mais o irei ver mata-me aos poucos, como uma doença sem cura.
    Tudo se passou há 10 anos, quando eramos apenas umas crianças. O seu sorriso cativara-me desde a primeira vez que o vira. Alguma coisa nele me dizia que eramos feitos um para o outro, almas gémeas. Mas, por outro lado, o que é que um adolescente de 16 anos sabe sobre o amor? Bem… hoje eu percebo que sabia tudo, que vivi com a intensidade necessária, que amei o máximo possível, mas não chegou! Eu queria ter amado mais, queria ter sorrido mais. A verdade é que nós os dois nos apaixonamos um pelo outro, e parecia que nada, nem ninguém poderia estragar isso, que nada, nem ninguém nos iria separar, nunca. Digo bem… parecia!
    Aquela noite iria ser perfeita. Fazíamos um ano de namoro e, para celebrar, fomos a um restaurante. O melhor da cidade! Antes de seguirmos para o dito restaurante, ele passou por minha casa para me vir buscar. Mas chegou cedo demais. Então, enquanto me preparava, ele ficou no meu quarto à espera. Vesti um vestido azul claro, com um pouco de renda na parte superior, penteei os meus longos e lisos cabelos e sai para me mostrar ao meu amor. Ele abriu a boca em sinal de espanto e murmurou algo do tipo “Estás linda, meu amor”. Senti-me a corar. Ele avançou para mim e agarrou-me pela cintura enquanto me beijava. Um arrepio invadiu-me! Despregados deste longo beijo, apressámo-nos a ir para o carro que nos conduziria para a (suposta) noite perfeita.
    Quando chegámos ao restaurante, não existia lugar para estacionar, por isso, ele mandou-me sair do carro, para ir reservar a mesa, enquanto ele procurava um estacionamento. Assim foi, entrei, reservei e esperei. Esperei 10, 20, aos 30 minutos comecei a passar-me e fui ver o que se passava. E aí, bem, é inexplicável, a dor, o horror que me invadiu naquele momento. O carro em que seguíamos estava desfeito. Um condutor bêbado que estava a sair embateu no nosso veículo, causando um aparatoso acidente. Corri em direcção ao carro, enquanto chorava e pedia para que não fosse verdade. O corpo dele estava repousado sobre o volante, e a cabeça dele estava voltada para mim. Eu chamava o seu nome vezes sem conta, enquanto ele encarava o nada. O meu mundo desmoronou-se em 5 segundos, 5 segundos que mudaram a minha vida para sempre.
    Enquanto observava as fotos, reparei que uma delas tinha algo escrito atrás. Era uma fotografia em que ele me pegava ao colo e estávamos os dois felizes, à espera de um futuro feliz. Estava escrito: Eu sei o quanto estás triste. A saudade também me consome a cada segundo! Não poder estar junto a ti, não te poder tocar… E a tristeza invade-me cada vez que vejo uma lágrima a percorrer a tua face. Peço desculpa. Peço desculpa por não ter realizado os teus sonhos. De não sermos felizes para sempre, de não sermos uma família, de não envelhecermos juntos. Eu amo-te para a eternidade, porque sabes… o verdadeiro amor destrói qualquer obstáculo, até o da morte.
    Abracei a foto, enquanto chorava desalmadamente. Como é que isto era possível? Até hoje ainda não descobri, mas todos os dia, até ao fim, releio aquela “carta” e lembro-me que ele está bem e que um dia o irei reencontrar e cumpriremos o nosso sonho de sermos felizes para sempre.