04 junho 2013

    Olhei pela janela. As estrelas, a lua, o pano negro de fundo. Tudo parecia estar em sintonia, tudo no seu lugar, uma perfeição inexplicavelmente bela. Tudo menos eu. Observei o meu quarto. A desarrumação tomava conta deste: roupa por cima da cama, armários abertos, papéis espalhados pelo chão. Nada que não me seja familiar. Toda esta barafunda é o espelho do meu coração. Triste. Sem rumo. Perdido. Quando é que a minha vida irá fazer sentido? Quando é que poderei limpar as incansáveis lágrimas que predominam no meu rosto? Quero-me encontrar.
    Passou uma estrela cadente. Pensei em bastantes desejos. Demasiados. Mas havia um que predominava. Eu queria combatê-lo, destruí-lo, torna-lo impossível, mas não consegui. Então fechei os olhos muito cuidadosamente, reuni as mãos em modo de suplica e suspirei de forma delicada, quase a medo, muito baixinho “Quero-te a ti.”. A esperança estava acesa no meu olhar, como duas pérolas muito brilhantes. Sorri levemente. “Talvez fosse possível” pensei. Mas algo na minha mente me fazia recuar. O medo. A ilusão. Ou melhor, o medo de me iludir. O medo de estar quase lá e me perder nas entrelinhas. O medo de tentar escrever uma história que é impossível de escrever, que envergasse por um caminho obscuro, sem finais felizes. Ou seja, o caminho que a minha vida estava tomar neste preciso momento. E eu precisava de uma reviravolta. Tu. Embora eu o negasse.

    Olhei de novo a tela preta. Ou seria cinzenta? Aqueles milhões de pontos pequeninhos, a anos-luz de distância de mim pareciam-me mais próximos que nunca. Aconchegantes. Esperançosos. E eu continuei a observar, a sonhar, a imaginar. A dormir acordada, a desenhar a minha utopia, a ser feliz. E permaneci. “O mundo parece ser tão perfeito, olhado cá de baixo” suspirei.