Ultimamente tenho
tido uma vontade enorme de desistir. Desistir de tudo. Desistir de mim.
Desistir de ti. Deixar tudo para trás, fingir que nada existe, que o olá se
transformou num adeus, que as palavras se transformaram em silêncio, que do
tudo apenas restou um vazio. Um vazio permanente, um vazio profundo, intenso. A
minha vontade não passa disso. Deixar de ser mais uma estrela ignorada entre
tantas outras, cuja falta não seria notada, cujo lugar facilmente seria
ocupado. Eu quero poder voar. Largar as asas, pintar o céu de azul-turquesa,
ser livre. Eu quero deixar para trás tudo o que me faz mal, quero sorrir, quero
não me importar. Quero não me prender tanto a um sorriso, a um olhar, a uma
pessoa.
As minhas palavras
têm-se perdido no infinito do silêncio, tal como as minhas exigências, os meus
pedidos. As minhas vontades apagaram-se, como uma vela quando chega ao fim.
Tudo o que eu queria submeteu-se a tudo o que outra pessoa queria. Apenas
porque sim. Apenas porque eu não queria que isso acontecesse. Por vezes
pergunto-me se o mundo gira ao contrário dos meus desejos. Ou talvez sou eu que
tento sempre remar contra a corrente. Ou, ainda, tudo o que eu quero torna-se
tão insignificante neste mundo de altos sonhos inalcançáveis, que desaparecem.
Sem rasto. Sem rumo. Silenciosos. Sinceros.
Todavia, eu quero
gritar, eu quero marcar presença, opor-me ao que existe. Eu quero complicar o
que é simples e simplificar o que é complicado. Eu quero que o meu som mova
multidões. Eu não quero que me olhem, eu quero que me observem. Eu não quero ser
apenas mais uma que tentou e não conseguiu. Eu não quero fracassar mais uma
vez. Isto porque, apesar de dizerem que o que conta é a intenção, são os
resultados que permanecem na memória de todos. Mas… afinal, o que é que conta
mais? A jornada ou o objectivo? Para quê uma má jornada para acabarmos com algo
que, no final de contas, não era assim tão importante? Ou porque é que devemos
ser felizes, se depois iremos acabar na desilusão, no arrependimento? Mas, como
costumam dizer, nunca nos devemos arrepender de algo que um dia nos fez sorrir.
E se foi uma farsa? Será que só fomos felizes superficialmente? Será que
alguém, algum dia, foi realmente feliz? Ou, ao contrário, será que alguém,
alguma vez, esteve realmente triste?
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