Uma a uma, elas vão escorrendo pela nossa
cara. Muitas sem aviso prévio, todas com uma história escondida, milhões de
sentimentos que não couberam no coração e escorregaram abruptamente pela nossa
face. Primeiro, muito encolhidas, a espreitar pelo canto do olho, depois, com
mais liberdade, mais espontaneidade, expondo o nosso interior. São elas, as
lágrimas, que nos acompanham quando estamos tristes, emocionados, magoados,
quando sentimos saudades … Ah, as saudades! As grandes aliadas, companheiras das
pequenas gotas que teimam em aparecer.
Já nos questionamos porventura sobre o
porquê de sermos assaltados por elas. Muitos são as suposições lançadas e
perdidas na escuridão da dúvida. Alguns pensam que apenas existem para nos
ajudar a exprimir o que queremos dizer, sem palavras. Outros, mais ousados,
palpitam que choramos porque não temos capacidade de guardar os sentimentos e explodimos,
transbordamos, tal como um copo de água que enchemos com pouca atenção. Tantas
as opiniões, todas verdadeiras, todas erradas, quem sabe …
Maioritariamente, pensamos em escondê-las.
Respiramos fundo, piscamos os olhos várias vezes e olhamos para o teto.
Marotas, as lágrimas balançam, irrequietas, ameaçando cair. Não temos bem a
noção concreta do porquê de não querermos mostrá-las. Talvez tenhamos receio de
que nos acusem de sermos fracos, ou não queiramos partilhar as nossas
inseguranças, as nossas emoções e nos reservemos no nosso mundo, aquele que nos
compreende. É tudo um pouco incerto …
─ Bem, aqui vamos nós! ─ ameaçam as lágrimas,
saltitantes, prontas a brotar.
Respiro o mais fundo possível e olho para o
céu, na esperança de que ninguém repare. Elas dançam e sorriem, ironicamente.
Continuo a piscar e parece-me que desapareceram.
Agora é só seguir em frente …
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